quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Chuva Interior

Mário Chamie

Quando saia de casa

percebeu que a chuva

soletrava

uma palavra sem nexo

na pedra da calçada.


Não percebeu

que percebia

que a chuva que chovia

não chovia

na rua por onde

andava.


Era a chuva

que trazia

de dentro de sua casa;

era a chuva

que molhava

o seu silêncio

molhado

na pedra que carregava.


Um silêncio

feito mina,

explosivo sem palavra,

quase um fio de conversa

no seu nexo de rotina

em cada esquina

que dobrava.


Fora de casa,

seco na calçada,

percebeu que percebia

no auge de sua raiva

que a chuva não mais chovia

nas águas que imaginava.”

Um comentário: