sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dor - É o que sinto agora (2005)

Estou encostado na janela. Vocês param diante de mim. Não interesso a vocês, não sou eu quem vocês estão procurando, mas sei onde ele está e com um aceno de cabeça faço a indicação, vocês se colocam ao meu lado e em silêncio também observam.

Ele levanta do sofá e anda em direção à cozinha. Para na soleira da porta, olha para trás e escuta com atenção o que um de seus amigos tem a dizer. Volta-se para frente e em um rápido movimento coloca a mão direita na parede, a esquerda no peito e inclina o tronco um pouco à frente, tudo no mesmo instante, como se algo lhe apertasse o coração.

Nesse momento, um fato nos chama a atenção. Durante sua contração, o olhar permaneceu fixo na geladeira. (No lugar em que estamos não é possível enxergar geladeira nenhuma, mas sabemos que existe uma pela luz que ilumina a cozinha toda vez que, ali, alguém entra).

Ele se recompõe e volta ao grupo de amigos e observa-os com bastante atenção.

“Eu sou o pior.
Não sou nem de um lado, nem do outro.
Não sou do direito, nem do esquerdo.
Do Bem ou do Mal. Certo ou Errado.
Não sou felicidade, nem tristeza.

A única certeza que tenho é que possuo uma covardia enorme para julgar todos vocês”.

Logo é interrompido por um de seus amigos que pergunta no que ele acredita.
Ele olha em nossa direção. Apreensivo, seu olhar percorre e desafia os nossos.

De maneira indiferente, ele se retira da sala.

A caminho de casa, dentro do ônibus, ele pensa:

“Acredito no amor.
O amor que é capaz de fazer com que duas pessoas, que nunca tinham se visto antes, ao se ver, tenham a certeza de que o que mais querem é ficar juntas para o resto de suas vidas.

O amor que nos faz admirar o jeito de falar, andar, sorrir, brigar, chorar, dormir...

O amor que nos mostra a impossibilidade de viver sem você.

Eu acredito no amor.
No amor que vou sentir para sempre, mesmo sem vocês por aqui.
Um amor que dói e que por isso me certifica de que estou vivo,
Vivo sentindo essa dor, vivo para sentir esse amor.”

No apartamento, vocês se levantam e vão até a geladeira.
Branca, grande e, exatamente, bem em frente à porta.

Espalhados na parte de cima da geladeira, cerca de quinze ímas, entre pizzarias, farmácias e lembranças de nascimentos e cidades turísticas. Mais abaixo uma foto: Uma mulher linda e uma menina sorridente. Ao lado, um bilhete.

Amor,

Fomos para a casa da Cris. Amanhã nos encontramos no almoço na casa do Mau.

Pai,

Não esquece sua sunga.

Beijos, te amamos.

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